A trama psicológica das mães narcisistas

Saber que se tem uma mãe narcisista não é simples e nem fácil de se conceber. Entender que toda a necessidade de acolhimento e confiança que se busca na mãe está comprometida é avassalador. A parte mais dolorosa é quando se ganha consciência dos maus tratos - que muitas vezes nem velados são.

As vítimas deste tipo de convivência diariamente recebem críticas, desqualificações, intolerância e agressividade, independente do esforço que possam fazer para acertar. Um dos filhos sempre será tido como o filho de ouro, aquele que sempre é o protegido, visto como o melhor de todos e a quem tudo é desculpado - aliás, nada do que ele faz é observado como errado. A filha vítima, por sua vez, sempre será a que não se encaixa em nada, o bode expiatório de tudo o que pode dar errado e que não presta. Pela competição dessa mãe narcísica, voltada para si mesma, geralmente uma filha do sexo feminino é a escolhida para cumprir com este papel.

Como as mães narcisistas perversas enjaulam as suas crias dentro de um script bastante preciso, toda vez que suas filhas começarem a se desenvolver em algo que revele maior autonomia sobre si mesmas, o resultado será uma desqualificação massiva e, como isso costuma ocorrer desde crianças, imaginem como essas filhas ficam inseguras e com a autoestima totalmente fragmentada! Quando saem para o mundo, podem acabar tendo comportamentos duais onde ora tendem a atender todos os desejos do outro, ora sentem a necessidade de se protegerem com receio da perda total da identidade.

Algumas vítimas chegam ao meu consultório extremamente ansiosas e muitas delas com diagnósticos equivocados. Quando a trama é revelada, na maioria das vezes não há acordo sobre a veracidade do tema, sendo que o filho que está mais desperto necessita de auxilio terapêutico para se desintoxicar e não cair no conto de que é ingrato ou que estaria ficando louco. Tanto o teatro da vitimização dessas mães quanto o da acusação são extremamente agressivos e potentes.

O caminho de reparação e de cura emocional acontece na medida em que a compreensão total da trama vai sendo revelada. Por mais inacreditável que possa parecer, as vítimas quando despertas compreendem o quanto sempre foram fortes e, a partir desta percepção e de um bom trabalho terapêutico, passam a ter mais autonomia sobre si mesmas, aprendendo a fazer boas escolhas e seguindo pela vida em meio a outros mapas existenciais. Por mais sofrimento que tenham passado ou que ainda possam estar passando, existem todas as chances de que uma recuperação total ocorra, com real possibilidade de se virar a página.

????Quanto mais despertos, melhor!

Silvia Malamud

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